Melhorar os processos de formação contínua para o desenvolvimento profissional docente: 5 mudanças que os professores querem ver

Os professores veem o desenvolvimento profissional como uma oportunidade para resolver problemas e criar soluções diretamente relacionadas às suas salas de aula. Este blog apresenta 5 ideias de professores sobre como melhorar o desenvolvimento profissional contínuo.

April 22, 2024 by Mary Burns, Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, and Bianca Buse, Universidade Federal do Paraná, Brazil
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Professor lendo um livro para estudantes em Mojokerto, Indonésia. Crédito: Akhmad Dody/Banco Mundial
Professor lendo um livro para estudantes em Mojokerto, Indonésia.
Credit: Akhmad Dody/Banco Mundial

Todas as citações nesta postagem são de entrevistas de professores com Mary Burns (n=21 países, 90 professores). Eles não são atribuídos propositalmente para proteger a privacidade dos professores.

Os professores valorizam e reconhecem os processos de formação contínua como sendo fundamentais para o desenvolvimento profissional? Ou os consideram como uma perda de tempo? Acreditam que isso os ajuda a tornarem-se profissionais mais competentes? Percebem que a formação contínua pode apresentar impactos positivos para aa aprendizagem dos alunos ou esses processos são frequentemente irrelevantes e demasiado teóricos para ter qualquer utilidade percebida?

A resposta a todas estas questões é sim.

As perspetivas dos professores sobre o processo de formação contínua para o seu desenvolvimento profissional são complexas e nuançadas. Muitos estão frustrados pela falta de oportunidades de desenvolvimento profissional. Outros consideram que a formação contínua é demasiada esporádica ou superficial para ser eficaz. Mesmo aqueles professores que têm acesso a um bom número de oportunidades de formação muitas vezes consideram a sua qualidade e utilidade como insuficientes, na melhor das hipóteses.

No entanto, apesar da variação na frequência e nas perceções de qualidade desigual, os professores reconhecem geralmente o valor da formação contínua para o desenvolvimento profissional docente, sabem o que é uma formação contínua eficaz e querem mais — não menos — disso. Quando bem realizadas, os professores identificam que as formações contínuas oportunizam reflexões e práticas que permitem abordar problemas e criar soluções diretamente relacionadas com as suas salas de aula. E os professores têm ideias que não devem ser ignoradas sobre como é possível melhorar os processos de formação contínua para seu desenvolvimento profissional.

Este blog partilha 5 perceções de professores sobre a melhoria nos processos de formação contínua para o desenvolvimento profissional docente. Baseia-se em entrevistas conduzidas por Mary Burns com 90 professores em 21 países, inicialmente como parte do Relatório de Monitoramento da Educação Global, e na pesquisa de Bianca Buse sobre comunidades de prática de professores no Brasil.

1. A formação contínua de professores deve ser colaborativa

"Aprendemos melhor uns com os outros."
——
"O que aprecio na nossa escola é a eficácia coletiva. Resolvemos problemas e ensinamos uns aos outros em vez de esperar que o nosso gabinete distrital nos ajude. Quando eles vêm, é mais teórico."

Para os professores entrevistados, a formação contínua é bem-sucedida quando está enraizada na sua realidade profissional, no seu local de trabalho, capitalizando o seu conhecimento e experiências. Fundamental para isso é a colaboração, como destacado pelas citações dos professores acima.

A colaboração não só promove a inovação e a aprendizagem recíproca, aumenta a autoeficácia e a eficácia coletiva dos professores, e impulsiona a melhoria na prática docente. Os processos de formação contínua para o desenvolvimento profissional docente, quando colaborativos e focados nos problemas diários enfrentados pelos professores nas suas escolas têm sido elogiados como "a forma mais eficaz de aprendizagem profissional [porque] capacita os professores" para planear, avaliar, refletir, inovar e refletir (p. 7).

Professor explicando astronomia em Kirambo Centro de Formação de Professores no distrito Burera , na rural Ruanda. Crédito: GPE/Alexandra Humme
Professor explicando astronomia em Kirambo Centro de Formação de Professores no distrito Burera , na rural Ruanda.
Credit:
GPE/Alexandra Humme

2. Faça a formação contínua com os professores — não para eles

"Tomam decisões por nós sem nunca visitar as nossas salas de aula."
——
"Pensam que não sabemos o que precisamos."

Na maioria dos aspetos da vida, os clientes escolhem um serviço ou produto com base na adequação desse produto às suas necessidades e expectativas. Mas nos processos de formação contínua de professores, financiados pelo governo, os clientes (neste caso, os professores) não têm voz na escolha do seu fornecedor de serviço ou produto. Tudo é decidido por eles.

Os professores possuem perceções singulares das suas necessidades de formação. Querem estar envolvidos nos processos de tomada de decisão relativos ao planeamento, execução e avaliação das iniciativas de formação contínua direcionadas a eles. Fazer isso pode servir como um corretivo para muitas das omissões nas práticas de formação contínua em grande escala atualmente.

Incluir as vozes dos professores no processo pode garantir o alinhamento das ofertas de formação com as necessidades reais dos professores, priorizar atividades práticas e relevantes no lugar de focar apenas na aprendizagem teórica e oportunizar melhorias tangíveis no ensino e na aprendizagem.

3. Proporcione variedade nos processos de formação contínua

"[A formação contínua] era sempre presencial até [a pandemia de COVID-19]. O presencial era bom. O que aprendemos com outros professores muitas vezes é mais benéfico do que com o formador. Fui a algumas sessões de formação online e há uma ou duas coisas interessantes, mas como não temos pessoas lá e ninguém quer falar online, não há o envolvimento que temos na formação presencial."

Os professores anseiam por oportunidades diversas de formação contínua para seu desenvolvimento profissional, desde workshops curtos até cursos de longo prazo, reconhecimento formal para aprendizagem autodirigida, aulas abertas e observações entre pares para ver os seus colegas em ação, e acesso à aprendizagem online como parte de uma abordagem de aprendizagem mista.

Os processos de formação contínua que os professores mais desejam — e que menos recebem — são integrados de forma transparente nas suas rotinas diárias "no seu local de trabalho" e incluem a observação dos seus colegas a implementar inovações semelhantes no mesmo contexto, com os mesmos recursos e alunos que os seus.

O que os professores querem menos — e o que muitas vezes recebem mais — é um ciclo monótono de formação: workshops de curta duração focados no desenvolvimento de competências ou aquisição de conhecimentos. Este é especialmente o caso nos programas de educação financiados por governos.

Esta abordagem uniforme à aprendizagem profissional, muitas vezes impulsionada pela abordagem em cascata ou 'formação de formadores', é um veículo inadequado para ajudar os professores a aplicar, adaptar e refinar novos conhecimentos. A pesquisa destaca o ciclo prejudicial de retornos decrescentes da abordagem em cascata — sua priorização da quantidade sobre a qualidade, falta de apoio sustentado e sua propagação de instrução de qualidade inferior ao longo das camadas sucessivas da cascata.

4. Certifique-se de que os profissionais responsáveis pelos processos de formação contínua são qualificados

"Não faz sentido ter alguém que não sabe nada a instruir alguém que não sabe nada. Os responsáveis pela formação contínua docente precisam de expertise no conteúdo e na forma como ensiná-lo. Precisam de saber como as crianças aprendem."
——
"Enviam pessoas que chamam de "especialistas". Mas eles não são especialistas no que precisamos. Precisamos de verdadeiros especialistas que entendam como resolver os problemas que enfrentamos."

Os professores valorizam muito aprender com especialistas, mas relatam frustração ao perceberem a falta de expertise entre muitos formadores, incluindo gestores escolares e especialistas educacionais. Esta insatisfação surge especialmente da prevalência de formadores que não têm experiência em sala de aula, uma preocupação ampliada pela prática comum, em projetos de educação financiados, de enviar profissionais com experiência limitada de ensino para promover formação contínua de docentes.

Os professores reconhecem que ser considerado um "especialista" muitas vezes não decorre de um profundo conhecimento profissional, mas sim do sucesso na obtenção de um contrato de projeto. Esta insatisfação não é infundada. A pesquisa corrobora essas preocupações sobre os formadores, lançando luz sobre os processos pouco claros envolvidos na seleção e preparação desses profissionais para os processos de formação contínua dos professores.

Para a maioria dos professores entrevistados, a fonte mais credível de formação para o desenvolvimento profissional é outro professor.

5. Fornecer apoio contínuo

"Eliminar a formação contínua padronizada e manter os formadores como apoio."
--
"Temos o coaching online, baseado em texto e presencial. Qual prefiro? Bem... um computador ou telefone nunca vai substituir um ser humano ao vivo."

O apoio contínuo e sustentado é um elemento crítico na formação contínua para o desenvolvimento profissional dos professores. O apoio pode assumir várias formas, como acompanhamento externo ou entre pares, apoio supervisionado ou mentoring. Para a maioria dos professores, é fundamental que o apoio se concentre genuinamente na melhoria de suas práticas versus responsabilidade e avaliação, e que seja de natureza organizacional para aumentar significativamente a transferência de aprendizagem para as salas de aula dos professores.

A pesquisa corrobora estes desejos, observando que o apoio de acompanhamento aumenta significativamente o impacto da formação contínua nas suas práticas de ensino e na aprendizagem. De facto, sem apoio logístico, conceptual, técnico e instrucional, os professores tendem a recorrer a métodos de ensino tradicionais, abandonando novas inovações.

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O processo de formação contínua docente corresponde frequentemente ao elemento definidor dos programas de educação financiados pelo governo. A pesquisa mostra que os alunos se beneficiam academicamente quando têm professores que participam de formação contínua sustentada e de alta qualidade.

Mas, como as entrevistas e a pesquisa sintetizadas aqui destacam, a formação contínua para o desenvolvimento profissional docente, para ser de alta qualidade, deve ser "centrada no professor". Deve envolver os professores no seu design e implementação, adaptar o conteúdo às necessidades dos professores, oferecer abordagens diversas como modelagem, experimentação e apoio, e estar enraizado na aprendizagem colaborativa com colegas que enfrentam desafios semelhantes.

Alinhar os processos de formação contínua dos professores com essa abordagem pode aumentar significativamente a eficácia dos professores na sala de aula, promover uma maior satisfação com a aprendizagem profissional e desempenhar um papel crucial na retenção dos educadores na profissão.

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Leia este blog em inglês

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